quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Quando o seu filho não quer ir para escola!

Sónia Ferreira - Psicóloga
Quando o primeiro dia de escola, não é uma alegria.
Muitos pais e filhos prepararam com alegria, o regresso às aulas. A escolha da mochila, dos cadernos, do estojo constitui para muitas famílias um momento de partilha e de definição de expectativas para o ano letivo, que se espera ser de aprendizagem e sucesso.
Contudo, este entusiasmo nem sempre acompanha todas as crianças, e para algumas, ir à escola representa um verdadeiro medo ou pânico.
Após a interrupção escolar para as férias de verão, com alguma frequência se ouvem as crianças a comentarem a sua falta de motivação para voltarem às rotinas, ao estudo e às avaliações. Neste contexto, a recusa em ir para a escola, por vezes acompanhada de manifestações físicas, como dores de cabeça, barriga, dificuldade em dormir ou “chichi” na cama, é normal e geralmente, com o passar dos dias é ultrapassada. No entanto, em alguns casos, estes sintomas permanecem e consolidam-se dando origem a uma fobia escolar.

Quando a recusa e o medo se transformam em fobia.
“ A fobia escolar refere-se à recusa prolongada de uma criança em ir à escola, devido a um medo relacionado com a situação escolar” (Odriozola, 2001). Tende a ocorrer sobretudo, em idades pré-escolares (idade de início da frequência da escola) mas pode ser registada em faixas etárias mais avançadas.
Com um início geralmente agudo em crianças mais novas, é comum aparecerem sintomas físicos, como vómitos, palpitações, dores de barriga e cabeça, alterações do padrão do sono e do apetite, “chichi” na cama, choro fácil, sobretudo no momento de ir para a escola. Os sintomas desaparecem se os pais optarem por a criança ficar em casa.
Nas crianças mais velhas e nos adolescentes o desenvolvimento é gradual, a fobia é mais intensa e grave. As queixas começam por ser vagas (“o professor é antipático, “os colegas são chatos”, “não gosto da escola”, etc.) mas, com o tempo, assumem uma atitude de total relutância, recusa e até fuga escolar.
Do ponto de vista clínico, a fobia escolar é habitualmente caracterizada pela presença de sintomas físicos de ansiedade, tais como: taquicardia, perturbações do sono, perda de apetite, palidez, náuseas e vómitos, dores abdominais, diarreias, dores de cabeça, etc. Associado, surgem pensamentos e medo excessivo de castigos dos professores, da ridicularização dos colegas, da avaliação negativa das capacidades intelectuais. Pode ainda ter na sua origem uma relação de dependência com a mãe, ou resultar de alterações no contexto familiar (separação dos pais, conflitos, doenças), entre outros.
A fobia escolar pode ainda estar associada a outros quadros clínicos, como a depressão e baixa autoestima.

O que se espera dos pais.
Perante uma situação de fobia escolar, os pais devem procurar manter a calma e transmitir ao filho a ideia de que a situação não é assim tão temerosa como ele a interpreta. Assim, estará a transmitir um modelo de positividade para a criança e a ideia de que em cada momento e experiência difícil é possível retirar algo de bom.
A par com uma atitude positiva, é fundamental que os pais compreendam os reais motivos do medo da criança e que conversem com ela de forma empática, sem nunca ridicularizar e desvalorizar os seus sentimentos.
Revela-se importante não reforçar a recusa, manifestações de choro, birra ou rejeição. Com efeito, se estes comportamentos receberem a atenção dos pais o risco de estes se manterem e repetirem aumentará. Pelo mesmo motivo, permitir que a criança não vá à escola, conduzirá ao aumento do seu medo e não a permitirá enfrentar as suas angústias.
Fomentar a comunicação sobre o que aconteceu durante o dia de aulas, no recreio, com os amigos, não só permite detetar se ocorreu algum problema que possa justificar a atitude da criança, como permite dotar esta de estratégias para resolver os problemas que surgiram, fazendo-a assim sentir-se mais segura. Além disso, pode ser uma oportunidade para mostrar interesse pelo dia do seu filho e transmitir uma expectativa positiva em relação à escola.
A comunicação com a escola e um pedido de ajuda aos professores poderão facilitar o processo de adaptação e integração da criança. Em determinados casos, solicitar a ajuda de um psicólogo poderá facilitar o processo e sobretudo o tratamento dos medos.

Bibliografia:
Cartwright-Hatton, S. (2007).Como lidar com a criança ansiosa ou deprimida. Plátano Editora.
Odriozola, E. (2001). Perturbações da ansiedade na infância. Editora McGraw-Hill.

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